domingo, 10 de outubro de 2010

Ai delícia, ai ai delícia...!

Título original:
"O que os gringos acham das delícias brasileiras?"
Autor: Silvia Salek

Tinha voltado triunfante do Brasil com a receita de cuscuz de tapioca de uma baiana que cacei por dias na praia de Ipanema. "Esquece o leite-de-coco e o açúcar. Você tem que deixar a tapioca de molho em água fervendo, com uma pitada de sal e lascas de coco."

Feijoada - A decepção final
"Depois, você tira as lascas de coco da mistura e joga sobre o cuscuz já pronto. O leite condensado por cima substitui o açúcar", revelou a baiana, não sem antes fazer mistério, vir com aquela história de que não tinha receita, que fazia tudo "no olho".
Fiz o tal cuscuz aqui em Londres e dei para uma amiga inglesa provar. Ficou naquele silêncio prolongado, mastigando muito, como se cuscuz fosse rapadura. Engoliu e disse: "Muito bom. É igual ao nosso rice pudding". Arroz-doce? Que desfeita. A segunda punhalada veio com o brigadeiro. "O gosto não compensa o excesso de calorias", foi o que ouvi de uma inglesa. Isso nem foi dito para mim. Um comentário desses por um inglês equivaleria a um brasileiro cuspir o brigadeiro no olho de alguém. Foi dito para minha amiga inglesa por outra inglesa.
A decepção final veio com a feijoada. "Gostoso. Mas você já experimentou botar uns legumes?", perguntou uma amiga húngara, acrescentando que eles têm um ensopado "parecido" que leva cenoura, abobrinha, mas não feijão. Como assim "parecido"? A partir daí, começou a descrever o prato húngaro. Usou a feijoada como trampolim para discorrer sobre a semelhança entre ensopados do Leste Europeu.
A feijoada não foi toda comida. A farofa que a acompanhava nem mereceu comentário. Só foi espalhada pelo prato para dar aquela impressão de ter merecido alguma atenção talvez num esforço derradeiro de gentileza com a anfitriã.


Já perto de completar uma década aqui, comecei a questionar o valor absoluto daqueles pratos. Será que brigadeiro é tão bom assim? Ou boa é a memória da infância, de roubar doces antes de cantar o parabéns, de raspar a panela?

E o cuscuz? Tira Ipanema, tira aquela fome que dá depois de horas na praia, tira a baiana caminhando pela areia com sua jinga e seu tabuleiro, tira a expectativa em descobrir se ela é do tipo mesquinha ou generosa com o Leite Moça e exila o pobre do cuscuz aqui em Londres. Ele perde a alma, o sabor. conheci muitos estrangeiros que diziam adorar feijoada e até farofa. Mas, geralmente, tinham uma linda brejeira a tiracolo para confundir o paladar.
 
E você? Que reação já provocou com nossos quitutes?

2 comentários:

  1. Ai delicia, ai ai delicia...! Quero mais...!

    ResponderExcluir
  2. huuum, deve ser muito gostoso né ? rs / Adoro as nossas comidas maravilhosas. é uma mistura de temperos incrivel.

    ResponderExcluir