quarta-feira, 27 de outubro de 2010

INTEGRAÇÃO OU DESADAPTAÇÃO

Titulo original:
O Emigrantes: Integração ou desadaptação
Texto: Rui Marins



Os emigrantes brasileiros nos Estados Unidos, nos países europeus ou no Japão vivem realidades bem diversas, quando conseguem ter residência definitiva, principalmente com relação aos seus filhos e netos. Quando se fala na necessidade do governo criar um órgão institucional emigrante, autônomo e independente do Ministério das Relações Exteriores, já que nossos emigrantes constituem nos seus mais de três milhões um autêntico Estado emigrante virtual, isso não quer dizer criar no Exterior comunidades brasileiras alheias à soberania dos países onde vivem.
É verdade que, embora os EUA dêem mesmo a nacionalidade estadunidense aos emigrantes documentados e aos seus filhos nascidos no território americano, são o exemplo típico do comunitarismo emigrante, ou convívio em separado. Os emigrantes vivem em bolsões separados, segundo sua nacionalidade, sejam os italianos, os portoriquenhos, os chicos, os chineses, os cubanos e, mais recentemente, os brasileiros.

Seus filhos, seja qual for a pele ou o tipo de olhos, assumem rapidamente a consciência de cidadãos estadunidenses, porém conservam mais facilmente os vínculos com a origem por crescerem dentro de comunidades verde-amarelas. No caso de casais mistos, a ligação com as tradições brasileiras e com o idioma brasileiro nem sempre se preservam ou são mais atenuadas.


Nos países europeus existe uma maior preocupação com a integração dos emigrantes na vida do país, para se evitar a criação de bolsões de nacionalidades estrangeiras diversas. O que nem sempre é fácil, visto a rejeição dos nacionais a certos estrangeiros, como os africanos e os árabes vindos do Magreb, norte da África. Na Alemanha, por exemplo, formou-se um grande bolsão turco. Filhos e netos de emigrantes turcos continuam sendo turcos e essa política desfavorece o processo de integração. O mesmo ocorre na Suíça, onde a nacionalidade suíça, só se transmite pela mãe ou pelo pai suíços, porém, no caso da emigração brasileira, em grande parte por casamento misto, há muito clima para uma rápida integração.


O Japão é o país onde os emigrantes brasileiros sofrem maiores dificuldades para se integrar Paradoxalmente, é o único país onde não existe imigração ilegal e onde a quase totalidade dos emigrantes brasileiros é de origem japonesa, geralmente netos dos imigrantes japoneses no Brasil. Existe um órgão japonês no Brasil encarregado da emigração e diversas escolas privadas para os filhos dos nossos emigrantes foram criadas no Japão. Essas escolas acabaram se tornando o principal fator de des-integração dos emigrantes brasileiros no Japão. Não sendo totalmente bilingues, mas dando formação em brasileiro e um aprendizado rudimentar do japonês, impedem ao jovem brasileiro ingressar profissional e socialmente na fechada sociedade japonesa que não reconhece como japoneses os descendentes dos que se expatriaram.

O movimento Estado do Emigrante não tem nenhum interesse em criar bolsões de filhos e netos de brasileiros não integrados na sociedade do país de acolha. Ser estrangeiro no país de acolha não é coisa que se almeje transmitir para seus filhos e netos. A perfeita integração é um ideal para a felicidade pessoal do emigrante e sua descendência. E quando se fala em integração se marca a diferença com a assimilação, processo pelo qual o estrangeiro abre mão de todas suas origens e se submete à cultura e língua do país de acolha. Pela integração, se adiciona a língua e a cultura do país de acolha ao que se trouxe do país de origem.


Em Berna, capital suíça, se pode bem exemplificar essa situação com os emigrantes francófonos vindos de países africanos de língua francesa. Durante mais de 60 anos, os próprios suíços mas de língua francesa viveram isolados em Berna, cidade de língua alemã, numa opção comunitarista, negando-se a aprender o dialeto local e o alemão, excluindo-se praticamente da vida bernesa. Em 2002, criamos a associação www.francophones-de-berne.ch , em favor do ensino bilingue francoalemão nas escolas primária, secundária e colegial, como maneira de se integrar os emigrantes francófonos, vindos do Magreb e da própria França, dentro da cidade de Berna. Com o objetivo de se guardar a língua de origem, o francês, aprendendo-se o dialeto e o alemão da cidade que os acolheu. O movimento bilíngue tem evoluído e atualmente o prefeito local estuda nosso projeto de integração da população francófona pelo ensino bilíngue nas escolas.

O movimento dos Brasileirinhos Apátridas não visava um desenvolvimento emigrante comunitarista, mas evitar que filhos dos nossos emigrantes se tornassem apátridas ao chegar à maioridade, já que o Brasil tinha retirado em 94 a nacionalidade nata dos filhos de brasileiros nascidos no Exterior. Esse absurdo, corrigido em setembro de 2007 por uma emenda constitucional, lançada e apoiada pelo movimento Brasileirinhos Apátridas, mostrou igualmente a inércia do MRE diante do grave problema e é a base do movimento por um órgão institucional emigrante independente e autônomo do MRE, ligado diretamente ao governo, como uma Secretaria de Estado da Emigração.

Porém, um mal-entendido precisa ser desfeito – os filhos de pai e mãe brasileiros emigrantes, exceto em países fechados com o Japão, Suíça, Alemanha, onde continuam sendo considerados estrangeiros mesmo lá nascendo – não são mais emigrantes. Porém crianças e jovens estadunidenses, franceses, e de outras nacionalidades, com vínculos brasileiros, cultura e língua, que, de preferência devem ser preservados como um capital de origem. Crianças em grande parte binacionais, mas perfeitamente integradas no país onde nasceram e onde vivem. Tenho quatro filhas, duas do exílio nascidas em Paris, e duas nascidas em Berna, na Suíça. As quatro são binacionais, mas na verdade são duas francesas e duas suíças, com ligações fortes com o Brasil. Seria ridículo considerá-las emigrantes, assim como os filhos de nossos imigrantes vindos da Itália, Espanha e Alemanha são brasileiros e nem passa pela cabeça de ninguém considerá-los ainda imigrantes.


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